Úlcera gástrica é um dos principais distúrbios gastrointestinais e devido aos fatores ulcerogênicos, como radicais livres, ainda constitui um grave problema de saúde. É uma doença de difícil cura, uma vez que a maioria dos medicamentos aplicados na terapêutica estão associados a efeitos colaterais e à má qualidade de cicatrização, causando a recidiva da úlcera. Nesse contexto, a busca por terapias com menores efeitos colaterais e por agentes capazes de conferir proteção auxiliar contra a úlcera gástrica continua, e estudos tem se voltado para produtos naturais de origem animal. O pólen de pote de abelhas sem ferrão é um produto natural muito apreciado na cultura popular, como alimento e medicamento, e apresenta rica composição de nutrientes e bioativos, contudo é pouco investigado. Por possuir antioxidantes, principalmente fenólicos, pode ser especialmente útil frente a doenças em que radicais livres estão envolvidos. Diante do exposto, objetivou-se realizar a caracterização, por meio de análise palinológica, antioxidante e fenólica, do pólen de pote da abelha sem ferrão Melipona compressipes fasciculata Smith, bem como investigar sua atividade gastroprotetora e cicatrizante em ratos. Para tanto, foram coletadas, diretamente em colmeias, amostras de pólen de pote em duas estações: PPMF1 (estação chuvosa) e PPMF2 (estação seca). A caracterização palinológica revelou origem botânica variada, com predomínio de tipos polínicos de espécies da família Fabaceae. A capacidade antioxidante, in vitro, foi de 62,93% e 58,86% de eliminação do radical DPPH e o conteúdo de fenólicos foi de 9,32 e 6,59 mg de equivalente de ácido gálico por g para PPMF1 e PPMF2, respectivamente. A análise do perfil fenólico, por CLAE e CLAE-MS/MS, demonstrou presença de compostos com atividades antioxidantes e gastroprotetoras, como ácido protocatecúico, ácido caféico, quercetina, rutina, miricetina e naringenina. A partir desses resultados, procedeu-se com a investigação da atividade gastroprotetora através de modelos de lesões gástricas agudas induzidas por etanol e etanol acidificado. O tratamento com PPFM2 (3, 8, 24 e 80 mg/kg), previamente à indução dessas lesões, promoveu redução da área de lesão, possivelmente por mecanismos citoprotetores, com porcentagens de proteção entre 20 e 54%. No modelo de isquemia/reperfusão, o pré-tratamento com PPMF2 reduziu, de modo significativo, a área de lesão em todas as doses testadas (8, 24 e 80 mg/kg), demonstrando proteção de 72, 77 e 92%, indicando atuação contra radicais livres. O PPMF2 ocasionou ainda aumento dos grupos sulfidrílicos não-protéicos e diminuição da peroxidação lipídica em ratos lesionados com etanol absoluto, denotando efeito potencializador do sistema antioxidante. Quanto à atividade cicatrizante em ratos, verificou-se que o tratamento, pós indução de úlcera gástrica e por 7 dias, com PPMF2 em todas as doses (3, 8 e 24 mg/kg), promoveu redução significativa do volume de úlcera e maior cicatrização dessa. Os porcentuais de cicatrização foram, respectivamente, 36, 85 e 97%. Esse tratamento com PPMF2 também elevou o conteúdo dos grupos sulfidrílicos não-protéicos e atenuou a peroxidação lipídica em ratos ulcerados por ácido acético. Além disso, não foram observadas alterações comportamentais, modificações no peso corporal e de órgãos e perturbações significativas em parâmetros bioquímicos nos animais tratados com PPMF2, quando comparado com o grupo veículo. Conjuntamente, tais resultados demonstram que o pólen de pote de M. compressipes fasciculata possui atividade gastroprotetora e cicatrizante, sendo potencial agente preventivo ou terapêutico de úlcera gástrica, podendo ser aplicado em produtos biotecnológicos, alimentícios ou farmacêuticos.