Céu em fogo: quando o narrativo e o poético se encontram
Céu em fogo. Hibridização de gêneros. Prosa poética.
Mário de Sá-Carneiro, poeta português que viveu na confluência do século XIX para o XX, pode ser considerado um artista de estilo singular, contribuiu com a introdução do Modernismo em Portugal, ao participar da produção da revista Orpheu. A manifestação literária do autor se insere no limiar da expressão dos delírios do sofrimento, da dor da alma transportada a um plano estético e da configuração de um sujeito poético em sintonia com sua dispersão subjetiva. Nesse sentido, o artista que quer ver reconhecidos os seus ideais, que usa a emoção, mas ao mesmo tempo dela se distancia, pode ser encontrado na produção carneiriana, motivado pelas vanguardas europeias. Assim, este trabalho analisa as novelas “A grande sombra”, “Asas” e “Eu-próprio o Outro”, contidas em Céu em fogo (1915), de Mário de Sá-Carneiro, a partir de um estudo dos aspectos que caracterizam a presença do poético nas narrativas do autor. Com base em análises estruturais de suas novelas poéticas, verifica-se a constante preocupação com os temas da Arte; a presença de duplos; a inquietação do texto com reduplicação, desdobramento e ruptura da ilusão; a fragmentação do enunciado, como mais um sinal da modernidade de sua produção ficcional. A obra prosaica de Sá-Carneiro funde-se com a lírica, constituindo-se em prosa poética, logo, os estudos de Tzvetan Todorov e Massaud Moisés possibilitaram identificar os aspectos que condicionam o mecanismo de hibridização entre prosa e poesia na novelística carneiriana. Esta dissertação analisa a tessitura da prosa poética, detectando quando há lirismo na prosa e atestando as características que configuram a fusão do enredo e da poesia, seja pela musicalidade ou pela divisão do texto em segmentos que chegam a recordar a cadência do verso.