Este trabalho se insere no campo da Historiografia Linguística e tem como objetivo geral construir uma narrativa historiográfica e uma fonte documental acerca da produção de conhecimento no âmbito do que chamamos de Tradição de Pesquisa em Línguas de Sinais (TPLS) no/do Brasil, no período de 1980 a 2019, a partir de teses e dissertações produzidas ao longo desse período. Além disso, objetivamos, de modo mais específico: i) analisar, segundo o princípio da contextualização (KOERNER, 2014[1995]), os fatores sociais, políticos e históricos que favoreceram o desenvolvimento dos estudos sobre línguas de sinais no/do Brasil, a partir de 1980; ii) identificar, com base no corpus selecionado (teses e dissertações), os dados externos (ano de publicação, orientação e universidade) e os dados internos (conhecimentos abordados e línguas em estudo), a fim de perceber as produções por universidades e os tipos de conhecimento (SWIGGERS, 2013; 2015; 2019) mais ou menos privilegiados pelos pesquisadores da TPLS; iii) mapear e analisar os principais grupos de especialidade (MURRAY, 1993; BATISTA, 2013), a formação acadêmica dos principais líderes intelectuais identificados no corpus e a produção deles, com base, principalmente, no Currículo Lattes. Em termos metodológicos, utilizamos, como base, o modelo adotado por Oliveira (2021) e a técnica de mapeamento (COELHO; NÓBREGA; ALVES, 2021) de teses e dissertações da área, por meio do Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES. Quanto ao mapeamento do corpus, chegamos a um total de 146 trabalhos (42 teses e 104 dissertações), produzidos entre 1980 e 2019, nos quais analisamos os dados externos e internos. Diante da análise dos dados externos, identificamos 23 orientadores diferentes, com mais de uma orientação de pesquisa. A partir disso, fizemos um levantamento da formação e da produção acadêmica de cada um deles. Identificamos ainda a UnB como a universidade com maior número de teses e dissertações no corpus. Quanto aos dados internos, notamos que a maior parte das pesquisas se inserem no campo do conhecimento (sub)sistêmico da linguagem, que engloba conhecimento (orto)gráfico, gramatical e lexical (SWIGGERS, 2013; 2015; 2019). Fizemos também o levantamento dos grupos de pesquisa cadastrados no Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil (CNPq), que resultou em 38 grupos, presentes em todas as regiões, da área da Linguística de línguas de sinais. Com base nos dados descritos, notamos que a TPLS se constituiu como uma tradição que se consolidou ao longo de quatro décadas, em razão das políticas de expansão do Ensino Superior, de fomento à pesquisa e da implementação do curso de Letras Libras nas universidades brasileiras. Soma-se a isso a atuação de líderes intelectuais, de diferentes gerações, os quais realizaram pesquisas na área ao longo das décadas, legitimando a estatuto linguístico das línguas de sinais e intensificando a formação de novos pesquisadores.