Tessituras do Eu: identidades femininas em O assassino cego, de Margaret Atwood
Relações de gênero. Identidade feminina. Metafição. O assassino cego. Atwood
O estudo sobre as relações de gênero e a formação da identidade feminina na literatura tem sido um tema recorrente. As tradicionais representações ocidentais sobre o feminino na literatura apontam a mulher como sujeito passivo, subserviente, que aceita a dominação masculina. No entanto, com a estética do pós-modernismo e a ascensão de alguns movimentos, dentre eles o movimento feminista, essas representações passaram a ser revisadas. Autoras como Doris Lessing, Margaret Laurence e Margaret Atwood passam a usar protagonistas femininas em suas ficções para confrontar as imposições literárias que eram impostas às mulheres escritoras. Essas narrativas, segundo Gayle Greene (1991), passaram a ser denominadas de metaficção feminina; consistem na escrita realizada por mulheres que escrevem sobre mulheres escritoras. Deste modo, esta pesquisa se enquadra no âmbito do estudo das literaturas pós-modernistas e tem como corpus de investigação o romance O assassino cego (2001), da escritora canadense Margaret Atwood. Trata-se de uma obra de metaficção por excelência, e aborda as relações de gênero em uma sociedade patriarcal, retratando o Canadá durante o final do século XIX e o século XX. O estudo de Oassassino cego (2001) evidencia a problematização da mulher na condição de narradora de sua própria história. Ao dar voz às figuras tradicionalmente silenciadas, as narrativas de Atwood apresentam possibilidades de novas leituras que desafiam as tradições e os postulados patriarcais. A investigação consiste em um estudo qualitativo bibliográfico que procurou investigar de que modo as identidades femininas são representadas no romance O assassino cego (2001), de Margaret Atwood. Os resultados do estudo apontam que no romance o comportamento de submissão das personagens não faz parte da natureza feminina, mas sim pela pressão do sistema patriarcal. Percebe-se que, por meio da insubordinação e das resistências, essas personagens vão constituindo novas identidades. Observa-se, ainda, a importância da escrita feminina, que atua não só como um instrumento de insubordinação e resistência ao discurso patriarcal, mas também como ferramenta que contribui para a tomada de consciência da personagem Iris Chase, o que contribui para o apagamento de sua identidade passiva e a formação de nova identidade. Esta pesquisa tem como embasamento teórico o conceito de metaficção de Linda Hutcheon; relações de gênero Scott (1995); Bourdieu (2002); e Saffioti (1995, 2001, 2004, 2009); e de identidade de Silva (2009).