O presente estudo fundamenta-se no entrecruzamento dos campos da Literatura e da Filosofia, de modo a configurar a Literatura como ponto de partida para desenvolver um diálogo entre as duas ciências e assim, possibilitar a reflexão acerca da experiência estética e da existência humana. Nos debruçamos ao estudo da obra Nunca houve tanto fim como agora (2017), de Evandro Affonso Ferreira, que apresenta a narrativa ficcional de um grupo de cinco meninos em situação de abandono, vítimas da exclusão social e
econômica, em busca de um sentido da vida nas ruas. Trata-se de uma obra impactante, especialmente no que se refere às emoções e, desse modo, apoiamo-nos na corrente da estética de recepção e no pensamento de Wolfgang Iser (1996, 1999) por se preocupar com o efeito da obra ficcional sobre o leitor e desenvolver a fenomenologia da leitura. Nessa compreensão, apresentamos a nossa percepção sobre a obra ficcional em estudo, a partir de uma ótica existencialista, uma vez que o sujeito faz sua travessia no tempo e no espaço sempre sob condições mutáveis de vida, sendo estas traumáticas ou não, e desse modo, cabe-nos refletirmos sobre a noção de vivência (Erlebnis) e a possibilidade da experiência (Erfahrung). Neste dispor, a pesquisa tem por objetivo compreender como a angústia existencial, lançada na obra de Evandro Affonso Ferreira, é capaz de produzir efeito estético ou “experiência vivida” (Erleben), segundo as concepções da teoria de Hans Ulrich Gumbrecht (2010). Esta pesquisa tem caráter bibliográfico e utilizou como método para a análise do objeto de estudo, um enfoque hermenêutico, baseado nas reflexões de Hans Ulrich Gumbrecht (2010), Martin Heidegger (2005), Wolfgang Iser (1996, 1999), Alita Tortello Caiuby (2017), Júlia Vasconcelos Studart (2008), João Cézar de Castro Rocha (2014), Alcir Pécora (2015), dentre outros. Acreditamos que este estudo será capaz de apontar o texto do escritor Evandro Affonso Ferreira como uma leitura possível para a compreensão da angústia existencial a ser principiada pela percepção do “ser-no-mundo”.