Em Textos para nada (1955), um narrador em conflito rememora fragmentos de lugares e de histórias. Atormentado por vozes que se confundem e não silenciam, o personagem beckettiano encontra-se em uma busca incessante pelo silêncio (nada), pelo esgotamento da linguagem, momento no qual cessará o falar. Esse cessar, porém, não chega, e na perturbação causada pelo “não ter o que narrar” e o “não conseguir calar”, o personagem tateia, “chega mesmo a procurar pelo próprio corpo”, esburacando o verbo, dissecando a palavra, até que não reste nada, até que reste apenas silêncio. Esse trajeto percorrido pelo narrador, essa busca pelo “fim” é, em verdade, uma busca por um outro possível, pelo além nada; “uma escalada niilista”. Samuel Beckett (1906 - 1989) realiza uma travessia silenciosa, com ruídos de memórias, escapando como pode das armadilhas da linguagem, tentando anular todas as possibilidades de significado. Seus fragmentos não possuem história, tão pouco um fim, são fragmentos. As palavras são escritas e logo após, negadas. Como ler textos que nada querem significar? É necessário ler – experienciar - os espaços, as pausas, deixar que elas falem em alturas vertiginosas, suspensas, “ligando insondáveis abismos de silêncio”.