UM ESTUDO SOCIOLINGUÍSTICO DE CONTATO DIALETAL: A INTERFERÊNCIA/ALTERNÂNCIA ENTRE A VIBRANTE SIMPLES COM A FRICATIVA VELAR NA FALA DE GAÚCHOS E BOM- JESUENSES, NO PIAUÍ.
Variação linguística. Contato interdialetal. Interferência/ Alternância. Vibrante simples. Fricativa Velar
O fenômeno da variação linguística está presente nas mais diversas situações de interação que envolvem falantes de uma língua, e como tal faz parte da caracterização linguística de muitas regiões brasileiras. Dentro dessa realidade, estão os falantes da cidade de Bom Jesus-PI que se caracteriza por uma migração gaúcha visível ao longo dos últimos 25 anos. Sendo assim este trabalho tem como finalidade investigar a Interferência/alternância da vibrante simples com a fricativa velar presente em situações de fala de falantes gaúchos e bom-jesuenses que mantêm contato entre si e moram na cidade de Bom Jesus-PI. Nessa investigação, usamos como aporte teórico fundamental Labov (1960), Bortoni (2014), Tarallo ( 2007), Cardoso (2010), Weinreich (1968)e Gumperz(1998) dentre outros que abordam sobre diversos estudos de fenômenos da variação linguística e, ainda, Câmara (1971,1998) Callou(1996;1999), Silva (2014;2015) como base para a identificação da variação fonético-fonológica em questão. A proposta metodológica deste trabalho caracterizou-se por uma abordagem quantitativa e qualitativa sobre o corpus selecionado, constituído de uma amostra de fala de 20 informantes representativos dessa comunidade social. Para um melhor detalhamento dos dados, primeiramente, fizemos uma caracterização histórico-geográfica da comunidade estudada. Em seguida, foi feito um registro de conversas livres e narrativas orais que direcionaram para temas da realidade local, bem como trechos de falas produzidas durante a entrevista semiestruturada e em contextos interacionais dos informantes em situações cotidianas. Realizada a coleta de dados, transcrevemos os trechos de fala, procurando registrar a presença da interferência/alternância da vibrante simples com a fricativa velar nos usos linguísticos dos informantes. Depois disso, fizemos o levantamento quantitativo das variantes linguísticas encontradas, codificamos de acordo com as variáveis sociais, submetendo-as ao programa GoldVarb X, e fizemos uma análise interpretativa dos dados gerados. Na sequência, abordamos qualitativamente a ocorrência do fenômeno estudado na interação linguística e fizemos uma análise das percepções dos informantes a partir das suas reflexões a respeito de sua própria fala. Do ponto de vista estatístico, esse estudo revelou que a variável social naturalidade foi a que mais condicionou a alternância da vibrante simples com a fricativa velar. Do ponto de vista interacional, a pesquisa demonstrou que, de um modo geral, o emprego dessa alternância ocorre de uma maneira espontânea na fala dos informantes. Porém, quando questionados sobre o que percebem a respeito de como está sua própria fala e a fala do outro após o contato com outro dialeto, a maioria dos migrantes gaúchos afirmou que vê bastante diferença da forma que falavam antes para a que eles falam hoje. Já com relação a opinião dos bom-jesuenses sobre como está sua fala após a convivência com os gaúchos, apenas a minoria afirmou que percebe alguma mudança. A análise indicou que os resultados já direcionam para a consolidação da variante fricativa velar na fala dos gaúchos bem com fazem uma indicação da presença da vibrante simples na fala dos bom-jesuenses na comunidade de fala pesquisada, comprovando assim que a interferência/alternância da vibrante simples com a fricativa velar está ocorrendo tanto na fala dos informantes gaúchos como na dos bom-jesuenses não só nas interações monitoradas como também em contextos espontâneos, cotidianos de fala.