Esta pesquisa teve o objetivo de analisar a construção de sentidos da objetificação racializada “delinquente em potencial”, empregada em discursos da segurança sobre à criança e ao jovem negro, presentes no jornal eletrônico Folha de S. Paulo. Nesse intento, as análises foram sustentadas no dispositivo teórico e analítico da Análise de Discurso Materialista. Em relação à metodologia, a proposta apresentada configura-se como de natureza qualitativa-interpretativa. Espera-se que este trabalho possa contribuir na elucidação da ótica objetificada da segurança sobre o público supracitado e na desmitificação de que não é filiada ideologicamente. Assim, emergiu a necessidade de pensar até que ponto o imaginário consolidado desde o período escravista influencia as práticas dessa segurança e do jornalismo. A partir disso, foi possível compreender como o poder público e privado colocam em circulação dados imaginários e sentidos que se cristalizam na memória social e coletiva, inclusive das instituições. Ao empreendemos nossos gestos de leitura, foi possível analisar como os discursos da Segurança e da Folha são orientados por uma racialidade que parte de formação social brasileira que se constituiu a partir de uma narrativa histórica imperialista hegemonicamente eurocêntrica sobre a escravidão, cuja faz erigir, sobretudo, a construção de delinquência, mas que também expõe uma constante contradição: entre a criminalização dos sujeitos negros e a descriminalização dos sujeitos da segurança. Encontramos funcionando uma constante divisão no social. A segregação entre um nós e eles como em uma guerra, que define um lado e outro. Uma guerra que é silenciada e legitimada pelo Estado. De um lado, a infância e a juventude negra e de outro a branquitude, assegurada pelo Estado e que domina os meios de repressão/exclusão/segregação/extermínio/genocídio (a segurança enquanto aquela que policia, reprime, mata para assegurar a existência de um outro), os meios de informação, como a imprensa. Portanto, a branquitude, nesse lugar de dominação, controla a instituição da segurança. Seja ela pública ou privada, haja vista que ambas ocupam posições semelhantes na prática discursiva, compartilhando formações discursivas que condenam a infância e juventude negra a essa objetificação como potenciais criminosos.