A atualidade do pensamento freiriano fornece embasamento para abordagens teóricas e aplicadas no campo dos estudos da linguagem, aqui, principalmente, traçando aproximações com os construtos da Linguística Aplicada, os estudos dos Letramentos e a Pedagogia dos Multiletramentos. Os estudos sobre letramentos, além de revelar visões hegemônicas que consolidaram definições, caracterizações e aplicações do termo, também permitem visualizar atualizações e ampliações cujo entendimento é atravessado pelas noções de: práticas de letramentos, eventos de letramentos, múltiplos letramentos e multiletramentos. Concebidas dessa forma, as abordagens sobre letramentos avançam sobre linhas teóricas ora divergentes ora convergentes e, sobre campos multidisciplinares das Ciências, suscitando reflexões tanto na perspectiva do ensino quanto das práticas sociais e da cultura como um todo. Em sede dos aspectos sócio-históricos e culturais que caracterizam os sujeitos, suas vivências, as instituições e as práticas humanas, a pesquisa situa-se no contexto espacial do município de Palmeirais (PI), considerando as suas particularidades, de forma que o enfoque seja: os sujeitos, as práticas humanas, a multiculturalidade e o ensino de linguagem. Por isso, o trabalho objetiva investigar o papel dos multiletramentos em propostas de ensino remoto, cuja natureza expõe e requer dos sujeitos domínios reflexivos e críticos sobre as linguagens e os contextos sociais multiculturais para além da mera codificação e decodificação em situações de exposição e contato com a leitura e a escrita. O ineditismo da pandemia da Covid-19 e o contexto sociocultural de implementação de propostas de ensino remoto no âmbito do município de Palmeirais, por meio da rede municipal de educação, concorrem para a definição do problema da pesquisa, o qual se reflete no seguinte questionamento: como os multiletramentos são evocados de maneira que respondam às demandas socioeducacionais, interacionais e multiculturais dos indivíduos? A assertiva de que os multiletramentos são inscritos nas vivências dos sujeitos e atuam para que as experiências locais reflitam sobre os saberes e os construtos globais da tecnologia, da cultura e do conhecimento corporifica a hipótese do trabalho. A pesquisa é uma investigação de base qualitativa de natureza etnográfica crítica (MAGALHÃES, 2012; AYALA, 2012), firmada nos campos da Linguística Aplicada (MOITA LOPES, 2006, RAJAGOPALAN, 2003, 2006), também conforme as reflexões de Freire (1989, 1992, 2000, 2004, 2017), e na Linguística Aplicada Crítica (PENNYCOOK, 2001; PENNYCOOK; MAKONI, 2019). Além disso, na perspectiva dos Novos Estudos do Letramento, (STREET, [2000] 2012) e nos construtos da Pedagogia dos Multiletramentos, conforme o Grupo de Nova Londres (GNL, 1996; COPE; KALANTZIS, 2000) e o extenso aporte teórico no âmbito dessas duas vertentes teóricas, que dentre outras contribuições destacam-se Kleiman (2005); Soares (2010); Rojo (2010, 2013); Lima (2019); Rojo e Moura (2012, 2019); Gomes (2015), dentre outros que propõem visões críticas sobre o tema e tornam-se referências para sustentar as discussões, abordagens e aprofundamentos aqui pretendidos. Neste sentido, assume-se que as intenções e experiências dos indivíduos tanto atuam sobre os saberes quanto são atravessados e modificados pelos saberes próprios de cada contexto. Esta pesquisa evidenciará contribuições para a compreensão das particularidades do ensino não presencial, o que poderá guiar ações futuras servindo como designer ou apresentando soluções já experimentadas no âmbito do ensino remoto, como também contribuirá com reflexões para se repensar o ensino de linguagem na dimensão de uma educação linguística crítica, tanto para situações mediadas com o uso de tecnologias digitais, como para situações em que não se faça uso de ferramentas tecnológicas.