Esta dissertação fundamenta-se no entrecruzamento dos campos da Literatura e da Filosofia, de modo a configurar a Literatura como ponto de partida para desenvolver um diálogo entre as duas áreas e, assim, possibilitar a reflexão acerca da experiência estética e da existência humana. Debruçamo-nos ao estudo do romance Nunca houve tanto fim como agora (2017), de Evandro Affonso Ferreira, que apresenta a narrativa ficcional de um grupo de cinco meninos em situação de abandono, vítimas da exclusão social e econômica, em busca de um sentido da vida nas ruas. Trata-se de uma obra impactante, especialmente no que se refere às emoções. Diante disso, apoiamo-nos no pensamento filosófico de Hans Gumbrecht por oferecer um fundamento teórico crítico acerca do predomínio da cultura hermenêutica preconizada nas ciências humanas em detrimento de uma “cultura da presença”. Partindo de uma compreensão substancialista do conceito de presença, apresentamos nossas reflexões sobre a obra ficcional em estudo a partir de uma ótica existencialista, uma vez que a narrativa retrata personagens em constante processo de atravessamento existencial, sob condições mutáveis de vida. Dessa maneira, o romance nos enseja a refletir sobre a noção de angústia existencial como “desvelamento do Ser” e sobre a ideia de vivência (Erlebnis) – caracterizada como o momento imediato, significativo e estético de uma vida – compreendida como padecimento e, até certo ponto, como páthos. Para este fim, com base nas contribuições teóricas de Hans Gumbrecht, esta pesquisa objetiva compreender como a angústia existencial retratada no romance de Evandro Affonso Ferreira produz efeito estético ou “experiência vivida” (Erleben). Esta pesquisa é bibliográfica e utiliza como método para a análise da narrativa uma perspectiva hermenêutica baseada nas reflexões de Alita Caiuby (2017), Friedrich Nietzsche (2019, 2001), Hans Gumbrecht (2014, 2010), Jorge Viesenteiner (2009), Júlia Studart (2008), Martin Heidegger (2005), entre outros. Destarte, os resultados deste estudo revelam que o romance de Evandro Affonso Ferreira constrói uma narrativa que permite compreender a angústia existencial e o páthos da vivência a partir dos efeitos da presença e do sentido.