Esta tese analisa a travessia transatlântica nos romances Água de Barrela (2016) e O crime do Cais do Valongo (2018), de Eliana Alves Cruz, bem como os sentidos e apreensões deste conceito em perspectiva ampla, pensando a travessia como uma ferramenta de análise que não se restringe ao movimento do navio negreiro entre África e América, mas algo presente enquanto marca ou ferida colonial nas vidas de pessoas racializadas no Brasil. Compreendendo o atual estado do campo dos Estudos Literários dedicados às literaturas amefricanas, a tese responde aos seguintes problemas de pesquisa: de que forma as literaturas produzidas por escritoras negras do século XIX à atualidade podem ser articuladas a partir do tema da narração do tráfico transatlântico no período da escravização negra no Brasil? Quais novas reflexões e sentidos são possíveis acerca do passado nacional considerando a memória desse trajeto na narração de mulheres negras nas obras de Eliana Alves Cruz? Como é possível relacionar o momento da experiência de desapossamento e a possibilidade de construir reexistências contra sistemas de opressão nos romances? São referenciais da pesquisa os estudos de Paul Gilroy (2001), Édouard Glissant (2005; 2021), Marcus Rediker (2011), Achille Mbembe (2018), Grada Kilomba (2019), Conceição Evaristo (2020), Fernanda Miranda (2019), Lélia González (2020), Beatriz Nascimento (2021), entre outros. Água de Barrela e O crime do Cais do Valongo são obras que se comunicam com as discussões atuais em torno do racismo no Brasil, utilizando como estratégia literária a ficcionalização e a reescrita do passado para compreender relações sociais estabelecidas no presente.