Nessa versão parcial de tese objetivo apresentar os desdobramentos teóricos que fundamentam e sustentam a operação do conceito de epigênese poética ou poesia como epigênese nos modos de experiências e instâncias retratados na obra A província deserta ([1974] 2007), do poeta lírico modernista piauiense H. Dobal (1927-2008). A justificativa para a realização desse estudo leva em conta o universo acadêmico, social e pessoal para fomentar o estudo da poética de Dobal a partir de uma visão teoria que, até onde os antecedentes de pesquisa revelam, considero inédita não só no âmbito da obra dobalina, mas também dentro dos estudos literários. Assim, sustento como hipótese dessa tese a existência de um processo de epigênese poética que se desenvolve na obra de Dobal a partir de diferentes modos de experiências e instância. O desenvolvimento da pesquisa fundamenta-se metodologicamente no estudo bibliográfico do conceito de epigênese nas ciências biológicas propondo sua possível ressignificação no campo da Literatura como epigênese poética. Por conseguinte, examino o corpus desse estudo através de análise qualitativa e quantitativa para observar como se desdobra a epigênese poética no âmbito da autoria, da fortuna crítica e da obra. A fundamentação teórica desse estudo baseia-se principalmente nas contribuições filosóficas de Charles Peirce (2010, CP. 1935-1958, 8 vols.) e em autores diversos do campo das Artes, das Ciências Biológicas, da Filosofia, da Linguística, da Literatura, da Neurociência, da Psicologia, da Psicanálise e outras áreas afins. Partindo daí, apresento à banca examinadora 3 (três) capítulos que discutem concomitantemente teoria e análise. No primeiro, discuto a fundamentação e organização do conceito de epigênese poética, o que se desdobra em epigênese poética genuína e degenerada. Em cada um desses níveis operam os modos de corpo-experiência, experiência-corpo, mente-experiência e experiência-mente. Essas categorias na epigênese poética são essenciais para fundamentar o que chamo de experiência-obsígnica nos capítulos seguintes para examinar a evolução da epigênese poética em dois modos de autoria e recepção dos modos de instâncias poéticas de A província deserta. A experiência-obsígnica resulta de obsignos que são signos-de e signos-para, os quais operam por uma consciência-de e uma consciência-para (obconsciência). O processo de transemiose atravessado por estas categorias na epigênese poética possibilitou identificar que a metáfora basilar para a obra de Dobal constitui-se numa poética do esfacelamento da experiência-obsígnica no âmbito do afeto, do espaço, da identidade, da memória e do ser-estar no mundo moderno. Assim, Dobal degrada a forma para poetizar o mundo degradado. Dobal pontua em sua metáfora do esfacelamento a vida em decomposição e o desaparecimento da própria experiência. A obrealidade dobalina retrata o ser-estar-para-da que não resiste ao corpo-experiência e desaparece na mente-experiência. A isso chamo de epigênese poética.