A questão da Língua Portuguesa falada no Brasil, principalmente a partir do século XIX, suscitou inúmeros debates a respeito do caráter diferenciador entre o português falado pelo europeu e o português que emergia da boca dos falantes que habitavam o Brasil. Tal fato foi responsável por despertar o interesse de estudiosos que se preocupavam com questões referentes às línguas, de maneira geral. Sendo assim, com o intuito de explicar as razões que levaram à modificação do Português Europeu em terras brasileiras, alguns estudiosos, ou mesmo curiosos interessados em matéria de língua, começaram a desenvolver e a propor algumas hipóteses a respeito dos fatores que poderiam ter colaborado para que a Língua Portuguesa falada no Brasil fosse tida como diferente da língua trazida pelos portugueses. Dentre os fatores apontados, o contato linguístico experimentado entre as línguas africanas e o português falado no Brasil, hoje conhecido como Português Brasileiro (PB), mereceu a atenção de alguns pesquisadores, cujos estudos elegeram o contato linguístico com as línguas africanas, como a principal causa para a diferenciação linguística ocorrida no Brasil. Considerando o exposto, o objetivo desta dissertação é explicitar e compreender a rede de relações estabelecidas por estudiosos brasileiros na elaboração das ideias linguísticas sobre a influência das línguas africanas na formação do que hoje se conhece por PB, a partir do clima de opinião (contexto histórico), à época em que as obras foram elaboradas, e da rede de referências adotada, com o intuito de compreender e explicar como o contexto intelectual da época e as referências utilizadas por esses estudiosos influenciaram na elaboração das ideias linguísticas, desses autores, a respeito da temática. As obras analisadas serão as seguintes: Estudos lexicográficos do dialeto brasileiro (1942 [1874-1890]) de Macedo Soares; Os africanos no Brasil (2010 [1890-1905]) de Nina Rodrigues; A influência africana no português do Brasil de Renato Mendonça (2012 [1933]); e O elemento afro-negro na língua portuguesa de Jacques Raimundo (1933). Para tanto, será utilizada como base teórica a Historiografia Linguística, área de pesquisa que permite uma análise atrelada ao contexto histórico e social à época em que os estudos foram produzidos, utilizando como categorias analíticas o argumento da influência, proposto por Koerner (2014), além da categoria retórica do autor, de acordo com o que propõe Batista (2015), buscando evidenciar as continuidades e rupturas presentes nas ideais linguísticas desenvolvidas pelos estudiosos, buscando articular a discussão com os conceitos de coletivo de pensamento e estilo de pensamento, os quais são discutidos por Fleck (2010). Com base na análise realizada, foi possível comprovar, inicialmente, a relevância do contexto intelectual e social, aqui apontado como argumento da influência, na elaboração das ideias linguísticas formuladas por estudiosos brasileiros a respeito do contato linguístico experimentado entre as línguas africanas e o que hoje se conhece por Português Brasileiro. Com a explicitação do contexto em que esses estudos foram elaborados bem como a apresentação de informação a respeito da vida dos autores, além da rede de referencias adotada, foi possível traçar, de maneira introdutória, alguns dos possíveis caminhos percorridos por eles e as principais influências que podem ter colaborado para a elaboração das ideias linguísticas dos autores em foco.