O presente trabalho tematiza as significações das representações de corpos de mulheres articuladas pelas relações de gênero, através de um eu lírico feminino que configura o lugar de fala do sujeito historicamente subalternizado, a quem é negada a fala, portanto, sendo o próprio ato de fala uma subversão. A poeta angolana Paula Tavares, com sua obra Amargos como os frutos, é o sujeito/objeto da presente pesquisa, que foi estudado a partir de três planos de análise: corpo subversivo, corpo subalterno e corpo amante; que foi lido, lírica e teoricamente, com vistas a compreender os sentidos e as estruturas das significações de cada eixo analítico. O elo principal entre eles foi aspectos relacionados a processos de emancipação feminina. O objetivo geral do trabalho foi pesquisar representações de mulheres em processos diversos de autonomia sociopolítica e afetiva, que emergem da poesia de Paula Tavares na obra Amargos como Frutos, articuladas na relação dessas com seus próprios corpos e com aqueles do sexo masculino, confrontadas com paradigmas culturais de comportamentos naturalizados e estabelecidos para mulheres e homens na sociedade angolana. E foram objetivos específicos: investigar, na poesia de Paula Tavares, formas de domínio do masculino sobre o feminino; averiguar representações de insubordinação da sexualidade feminina inscritas em poemas de Paula Tavares que expressam uma busca pelo domínio do próprio corpo; e examinar poemas de Paula Tavares que abordam relações consensuais e amorosas entre amantes, nas quais as alteridades se relacionam de maneira mais equânime, redesenhando, assim, as fronteiras entre masculino e feminino, de forma a perceber se os limites postos para os comportamentos entre os gêneros podem ser transpostos, deslocando mulheres e homens para experiências mais horizontais de gênero e sexualidade. Foram categorias adotadas para a análise: gênero, patriarcado, subversão, subalternidade, dentre outras. As categorias teóricas que orientaram a leitura e a análise dos textos poéticos possibilitaram identificar registros diversos da corporeidade feminina, que foi o pressuposto do problema de pesquisa formulado através da seguinte questão: como as mulheres são representadas na poesia de Paula Tavares, pela obra Amargos como frutos? A metodologia utilizada neste trabalho foi pesquisa bibliográfica qualitativa. O processo de coleta de dados e análise foi feito com preenchimento de mapas, com colunas e linhas que foram lidas, orientadas pelos três eixos de análise. Destacam-se, como considerações finais, a afirmação de que a poesia de Paula Tavares revela um processo cultural capaz de alterar as relações de gênero na perspectiva de emancipação, de longo alcance, que infere em mudar as simbologias para alcançar mudanças estruturais e materiais, havendo percurso de subversões que contêm diversas facetas de autonomia sexual de um eu lírico feminino que é o oposto do tradicional, bem como um poder que, combinado com afeto, pode produzir alteridade das mulheres, ou anular a autonomia feminina.