O topos do Duplo faz parte da história cultural da humanidade. No âmbito da literatura, é cultivado desde a antiguidade clássica com obras como Anfitrião (201-207 a.C.) e Os Menecmos (206 a.C.), de Plauto. Contudo, seu apogeu se deu no século XIX, com E.T.A. Hoffmann, com as obras: Don Juan (1813), O vaso de ouro (1814), Os elixires do diabo (1815-16), O homem de areia (1816), Os autômatos (1819), Os Duplos (1821). Esta temática possui uma afinidade particular com a literatura fantástica, haja vista que o desdobramento do Eu é um mote excepcional para dar vida à hesitação do gênero Fantástico, pois, como aponta Bravo (1997), a ambiguidade, a incerteza, presente na relação do Eu com o seu Duplo possibilita duvidar/questionar a realidade circundante. Desse modo, a presente pesquisa tem por objetivo analisar a temática do Duplo n’O Homem duplicado, de José Saramago, pelo viés da literatura fantástica. E para alcançarmos nosso intento, estabelecemos alguns movimentos indispensáveis, a saber: realizamos um recorte teórico-crítico da literatura fantástica, elegendo como base epistemológica o modelo estrutural proposto por Todorov (2008); explanamos o topos do Duplo, enquanto categoria concreta, com o intuito de definirmos o que é o desdobramento do Eu, bem como caracterizá-lo de acordo com os tipos e formas de materialização existentes e, por fim, efetivamos o exame do desdobramento do Eu na narrativa em destaque, com base na linha teórica escolhida. Para isso, tomamos o Duplo na acepção de Doppelgänger, bem como o sósia, como forma de materialização deste. O referencial teórico para o estudo do Duplo foram os estudiosos que tratam de modo específico dessa temática, dentre eles: Keppler (1972), Chevalier (1999), Bravo (1997), Cunha (2009), Mello (2000), Bargalló (1994), Jourde e Tortonese (1996), Pélicier (1995), Guiomar (1967), Richter (1995), etc., bem como outros que tratam dele, de maneira geral, enquanto tema do Fantástico.