A representação da metrópole pós-colonial n’Os versos satânicos de Salman Rushdie
Estudos Pós-Coloniais. Teoria do Espaço. Salman Rushdie. Literatura Contemporânea de Língua Inglesa
Desde que foi publicado em setembro de 1988, Os versos satânicos tornaram-se foco de uma das mais profundas polêmicas editoriais do século XX, este fato condicionou uma recepção crítica fundamentalmente ligada ao seu campo de produção e às demandas culturais e ideológicas deflagradas pelo denominado Caso Rushdie. Tal tendência gerou uma significativa lacuna no tratamento deste romance: a falta de estudos versando sobre aspectos pontuais da própria narrativa. Assim, na presente investigação focou-se no espaço tematizado n’Os versos satânicos, tratando-o enquanto uma representação simbólica multifacetada da tensão entre o discurso colonial e o discurso pós-colonial. Para alcançar tal escopo foram analisadas as propostas da narratologia para a descrição do espaço ficcional, seguido de um levantamento da fortuna crítica do romance no tocante à questão espacial. Deste inventário resultou a constatação de um paradigma descritivo-classificatório baseado numa visão estagnante e anacrônica do espaço. O reconhecimento desta contiguidade exigiu uma reflexão desconstrutivista da teoria do espaço, identificando os limites dos atuais modelos e propondo uma percepção social e dinamizada da espacialidade. Para subsidiar a análise adotaram-se as propostas das seguintes abordagens: Estudos Culturais da Escola Inglesa (Cultural Studies), Estudos Pós-Coloniais e Geografia Simbólica; em especial na adoção dos conceitos: terceiro-espaço (BHABHA,1990), topofilia (TUAN, 1980), trialética da espacialidade (SOJA, 1996, 2000; LEFEBVRE, 2006), geografia simbólica (SAID, 2003, 2007) e não-lugar (AUGÉ, 1995). A presente investigação tem como objetivo geral analisar as variadas representações da espacialidade urbana que se apresentam n’Os versos satânicos de Salman Rushdie. Como objetivos específicos, buscam-se verificar as formas de discurso espacial que podem ser percebidas na narrativa. Além de compreender como tais representações sobre o espaço se relacionam com a tensão entre o discurso colonial e pós-colonial. Por fim, este estudo reflete sobre os atuais modelos de descrição do espaço ficcional na crítica literária, propondo uma metodologia alternativa interdisciplinar que coaduna a análise textual do espaço ficcional à sua dimensão simbólica e social.