NORMA PADRÃO E VARIEDADE VERNÁCULA DO PORTUGUÊS EM UM GRUPO DE FALANTES ESCOLARIZADOS DE ZONA RURAL DE TERESINA-PI
Variação. Vernáculo. Norma-padrão. Redes sociais.
Este estudo, numa perspectiva sociolinguística, teve como objetivo investigar o uso do vernáculo por falantes escolarizados que foram submetidos a um longo processo de escolarização formal, período durante o qual tiveram contato de forma sistematizada com a norma-padrão da língua. As questões levantadas por esta pesquisa foram: perante a norma-padrão, que é a norma de prestígio, qual seria o lugar do vernáculo? O vernáculo estaria presente no repertório linguístico do falante ou seria inteiramente substituído pelo jargão culto prescrito pelas gramáticas? Existe um posicionamento na linguística aplicada de que os falantes, uma vez submetidos a um processo de ensino sistemático de língua materna (no caso, a norma-padrão) feito em instituição escolar, tendem a esquecer o vernáculo ou a língua que falavam anteriormente. Esse pensamento se encontra representado em Batista (2000) e mesmo em Labov (2008). Não obstante isso, é questionável a hipótese de que os alunos efetivamente aprenderam uma norma de prestígio em ambiente escolar para que se dê esse fenômeno de “esquecimento” do vernáculo, e ainda, é ignorar as características de suas redes de relações. Para o desenvolvimento da pesquisa, trabalhou-se com uma comunidade de zona rural, a comunidade “Soinho”, donde foram selecionados três grupos de colaboradores de três faixas etárias: idosos (60+), adultos (35-45) e jovens (16-20), com base nos critérios estabelecidos pelas variáveis localidade e idade. Levou-se também em consideração a variável escolaridade: baixa escolaridade para o grupo de idosos, e alta escolaridade para o grupo de jovens e adultos. A técnica utilizada para a obtenção do corpus de fala foi a de entrevistas. A concepção de vernáculo aqui adotada é o estilo de conversação mais espontâneo possível, o estilo menos monitorado em que há planejamento mínimo, não obstante possa eventualmente ser identificado como o falar próprio de uma comunidade, caso em que se configura um dialeto. Utilizou-se o termo norma-padrão para fazer referência à variedade linguística supostamente estudada/ensinada na escola, todavia, não no sentido proposto por Bagno (2006) de ideal almejado, nunca alcançado concretamente, posto que é objeto de ensino na escola e encontrada nos compêndios gramaticais e ainda publicações oficiais. Destarte, conferiu-se a essa norma uma certa materialidade e grau de existência com suficiente capacidade para influenciar comportamentos linguísticos. Através da análise, foi constatado que a fala do grupo de escolarizados, jovens e adultos, na comparação com características linguísticas do grupo de idosos com baixa escolaridade, não guardava praticamente marcas dialetais encontradas neste grupo, por outro lado, não caracterizou uso fidedigno da norma-padrão supostamente aprendida em instituição de ensino formal, dada a quantidade significativa de traços graduais não-padrão aí encontrados, nesse sentido, aproximando-se da variedade popular encontrada nos centros urbanos.