O romance A noite da espera (2017) de Milton Hatoum, traz um relato sobre a vida de Martim, que a partir de 1968 passa a residir em Brasília — DF. A diegese é construída por diários e cartas, que apresentam as transformações vividas pelo protagonista, bem como suas relações com os pais, amigos e a cidade em plena ditadura, relatando as perseguições sofridas por líderes estudantis, professores e artistas, na época do AI-5. Fatos e personagens históricas são trazidos e garantem uma consistência argumentativa ao mesmo tempo que investiga novas possibilidades para os acontecimentos já relatados pela historiografia. Com efeito, esta dissertação objetiva analisar a metaficção historiográfica como estratégia narrativa na urdidura do livro e como esse artificio auxilia na compreensão do contexto de censura artística e repressão política em Brasília, no período relatado no romance; pois as reapresentações históricas edificadas pela literatura possibilitam um reencontro com dilemas civilizacionais que nem sempre se apresentam resolvidos nas sociedades que padeceram dos males promovidos por governos ditatoriais, e a construção narrativa metaficcional historiográfica permite que o olhar daqueles que não são designados como protagonistas dos fatos venham à tona. Deste modo, utiliza-se como suporte teórico, para embasar a discussão sobre memória e o processo de escrita do autor e da personagem Martim, as contribuições de Maurice Halbwachs (1990), Michael Pollak (1989), Philipe Lejeune (2008) e Márcio Seligmam-Silva (2003); os conceitos do Novo Romance e metaficção historiográfica serão discutidos a partir da perspectiva de Linda Hutcheon (1991), Gustavo Bernardo (2010), Ferando Aínsa (1993), Seymour Menton (1993) e com relação a resistência desempenhada pelo teatro e a imprensa alternativa usa-se as análises de Carlos Fico (2004), Rosangela Patriota (2006), Roberto Schwarz (2005), Yan Michalski (1985), Patrícia Marcondes de Barros (2003) e Maria Lucia de Barros Camargo (2010). Ademais, a pesquisa revela que o romance de Hatoum é um modelo de diálogo entre literatura e história, e a metaficção historiográfica, utilizada na estratégia narrativa, permite que se faça uma imersão nos fatos históricos ocorridos na Ditadura Civil Militar, através do relato de Martim, ao mesmo tempo que possibilita compreender que a resistência ao Regime Militar brasileiro se fazia de várias maneiras e era protagonizada por muitos e valorosos indivíduos que o romance representa.