Na história da sociedade, sempre existiram debates importantes sobre as questões em relação às línguas. Hoje, elas são consideradas elementos essenciais para uma vida em sociedade, uma vez que promovem as relações entre os membros de uma determinada comunidade. No entanto, mais que isso, sobre elas, estabelecem-se definições e apontamentos muito variados: para uns, a língua é um instrumento de poder, para outros, ela é apenas um instrumento de comunicação; há, ainda, pessoas que a veem como um objeto passível de ser desmembrada e totalmente segmentada. No que diz respeito à Língua Portuguesa (LP), por exemplo, existem todos esses diálogos. Essa passou por um vasto processo desde a colonização até os nossos dias e é fruto de uma mistura entre várias outras línguas, que apareceram juntamente com os povos advindos de outros países nesse período da chamada “descoberta do Brasil”. Atualmente, nossa língua possui características próprias, e é considerada por estudiosos como Orlandi (2013), não como Língua Portuguesa, mas como Língua Brasileira, por possuir sua especificidade e já não manter mais relações diretas com a dos europeus. Este trabalho se insere nessas discussões. Quais as imagens se têm sobre a língua portuguesa nos nossos dias? Como ela é considerada: instrumento de comunicação, mediadora de relações sociais, instrumento de poder, etc? Para tanto, observa-se, nesta pesquisa, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento regulador da educação nacional, que propõe competências e habilidades necessárias para todos os estudantes, das mais diversas regiões do País. Assim, por meio dos discursos postos sobre a língua no documento, tem-se o intento de verificar quais efeitos de sentido podem ser compreendidos por meio do que se diz sobre a Língua Portuguesa (LP), e como esses dizeres são construídos. Assim, objetivamos analisar quais as concepções sobre a LP, na Base, e as funções que a ela são atribuídas. Toma-se como referências teóricas autores das Histórias das Ideias Linguísticas, como Auroux (1992/2014), Orlandi (2013), Guimarães (2005), Silva (2001, 2007), dentre outros. A HIL é um campo do saber que se debruça sobre a origem e o saber sobre as línguas, bem como sua instrumentalização. Em ligação à HIL, toma-se a Análise de Discurso como uma teoria capaz de auxiliar neste escrito, por entender que ela concebe os discursos como efeitos de sentidos entre locutores (PÊCHEUX, 2010), assim, aquilo que é dito na base ecoa sentidos diversos, que objetivamos compreender. Dessa forma, autores próprios dessa área são caros aqui, como Pêcheux (2009, 2010, 2015), Orlandi (2012, 2013, 2014), principalmente. Como análises, verifica-se que a LP é tomada, em um primeiro momento, na BNCC, como capaz de atender às necessidades dos alunos, mas, além disso, capaz de fazer com que esses alunos exerçam sua cidadania na sociedade, no entanto, quando se observam os discursos outros no texto, percebe-se que não existem subsídios suficientes para isso.