Esta tese segue os pressupostos epistemológicos e metodológicos da Análise do Discurso Semiolinguística, apoiados pelos estudos no campo da Retórica e da Argumentação. Nosso objetivo é analisar a construção discursiva acerca da saúde mental no Piauí a partir de publicações do jornal O Dia sobre as quais se destacou o protagonismo do sanatório Meduna, a mais importante instituição manicomial do estado do Piauí, sediada em Teresina, que funcionou durante meio século (1954-2010). Para o estudo das circunstâncias de discurso, do ato de linguagem, do contrato de comunicação midiático e dos imaginários sociodiscursivos, a pesquisa teve como base a Teoria Semiolinguística, por intermédio das contribuições de Charaudeau (1995; 1996; 2001; 2005, 2016) e Moura (2010; 2015; 2020). Na perspectiva da Retórica e da Argumentação, o estudo segue as conjecturas epistemológicas de Aristóteles (2015, 2021); Meyer (2007; 2021); Ferreira (2021); Perelman e Olbrechts-Tyteca (2014), Figueiredo (2020) e Amossy (2017; 2018; 2019), entre outros. Trata-se de uma pesquisa documental quanto aos procedimentos técnicos, qualitativa em relação à abordagem do fenômeno investigado e descritiva-explicativa quanto aos objetivos. Como resultados parciais foi possível evidenciar, com ênfase nas circunstâncias de discurso e nos atos de linguagem, sentidos distintos com o uso do termo “doido”, por exemplo, ora para se referir às pessoas sem sanidade, ora para denotar a ousadia do médico Clidenor de Freitas Santos com a construção do Meduna na década de 1950. Em relação ao contrato de comunicação midiático, com ênfase na mídia piauiense, verifica-se destaque às identidades dos parceiros, às finalidades e aos papéis que lhes são atribuídos. Observamos que os enunciadores das matérias analisadas recorreram a argumentos racionais a fim comprovar suas asserções, principalmente, por meio dos argumentos de autoridade, ilustração, comparação, definição e probabilidade. Identificamos imagens projetadas pelo jornal, a exemplos do ethos institucional e do ethos de solidariedade. Os resultados apontam também que o jornal O Dia se utilizou de diversos recursos passionais com a tentativa de despertar as paixões e, assim, comover e mover os ânimos do auditório (interlocutor do jornal) quanto aos fatos noticiados. As tópicas mais recorrentes nas matérias analisadas foram: o temor (medo), a indignação, a tristeza, o ódio, a angústia, o amor e a compaixão (piedade).