A presente pesquisa tem como discussão central a reescrita da obra A Tempestade (1610, 1611) de William Shakespeare, pelas autoras de língua inglesa Toni Morrison, Elizabeth Nunez e Margaret Atwood. O estudo toma, concretamente, como ponto de partida, os romances Tar baby (1981), Prospero’s daughter (2006) e Hag-Seed (2016) respectivamente, com o objetivo de identificar os caminhos ideológicos do processo de reescrita de uma obra literária do passado em sua atualização para o presente. Interessa-nos entender o modo que cada autora perscruta criticamente a relação colonial na elaboração de suas personagens femininas, e se posiciona com o que entendemos como “writing back” ou “writing back to the center” – “escrever de volta”, a partir de contextos e espaços distintos. Nesse sentido, à luz da crítica pós-colonial elaborada no final do século XX, e de estudos feministas, optamos por dialogar principalmente com: Gonzalez (1980), Boehmer (1995), Bonnici (1998), Moraru (2001), Hall (2003), Plate (2011), Said (2011), Buksdorf (2015), Collins (2017; 2019), hooks (2017), Davis (2017) e Akotirene (2018). Como corpus documental nos embasamos nos três romances citados e em outros textos literários produzidos pelas referidas autoras, bem como, reescritas de escritores afro-americanos, afrodescendentes, afro-asiáticos, indianos que, juntos, nos auxiliam a forjar e praticar uma “epistemologia alternativa” (Collins, 2019) aos pressupostos coloniais. Argumenta-se que ao elaborarem reescritas da obra A Tempestade, Toni Morrison, Elizabeth Nunez e Margaret Atwood subvertem os aspectos formais e ideológicos presentes no texto inicial, questionando as identidades de gênero, de raça e o próprio sistema literário que segue uma lógica eurocêntrica e falocêntrica sobre o que se entende por cânone.