O presente texto trata-se de um recorte da tese ainda em construção e tem por objetivo geral analisar os impulsos melancólicos presentes na Trilogia do Adeus (2017), de João Anzanello Carrascoza. Os impulsos melancólicos podem ser interpretados pela posição do narrador em relação ao que é narrado, a fragmentação temporal, geralmente marcada pela imprecisão e a fragmentação narrativa, em que o texto apresenta lacunas e silenciamentos. Assim, o capítulo apresenta uma leitura da Trilogia do adeus (2017) apresentando a melancolia como característica que une as três narrativas para, em seguida, partir para a leitura de cada uma das obras separadamente. O referencial teórico utilizado para a construção das análises conta com os textos de Freud, Mal-estar na civilização (2011) e Luto e Melancolia (1989); Jaime Ginzburg (2012); Theodor Adorno (2012); Erich Auerbach (2013); Walter Benjamin (1994) e Suzana Kampf Lages (2019). A justificativa para a escolha da melancolia como categoria analítica surge da necessidade de comparação com o paradigma de estudos acerca da melancolia e angústia na literatura brasileira contemporânea. Por contemporânea, me refiro à literatura produzida nos últimos dez anos. A proposta de pesquisa parte da compreensão de melancolia como uma postura existencial pessimista diante da vida. A fragmentação da metafísica que sustentou a modernidade é o ponto de partida para a compreensão da melancolia na literatura brasileira, especificamente no gênero literário romance. A hipótese é que a melancolia está expressa no romance brasileiro contemporâneo através da fragmentação narrativa, imprecisão temporal, na própria postura do narrador e das personagens diante dos eventos narrados, isso quando eventos são narrados pois, partindo do paradoxo proposto por Adorno e da extinção da narrativa tradicional, lamentada por Benjamin, há uma relação entre a melancolia e o próprio ato de narrar em si. Com relação aos romances selecionados para a realização do estudo, as três obras compõem a Trilogia do Adeus (2017), em que é possível perceber a relação fragmentada das famílias, com diálogos e vivências que se estendem no tempo e espaço através da escrita. Em Caderno de um Ausente (2017), João, protagonista e escritor do caderno escreve uma espécie de carta para sua filha recém-nascida, temendo estar próximo da morte e buscando, através da escrita preencher as lacunas de uma relação fragmentada e limitada entre pai e filha. O caderno só será entregue a Bia após a morte de João, o que torna o segundo romance, Menina Escrevendo com Pai (2017) um romance também melancólico, uma vez que agora é Bia quem escreve a João em resposta ao caderno a ela destinado. Se Bia leu o caderno, significa que João já não está mais presente em sua vida. O terceiro romance, A Pele da Terra (2017), o narrador é o filho mais velho de João, Mateus, está em seu leito de morte, na companhia do filho também nomeado João e narra a ele, a partir de sua memória, sobre a peregrinação que fizeram juntos pelo Caminho de Santiago de Compostela e como aquele mês que passaram juntos o impactou profundamente. Assim, o presente estudo pretende contribuir com o paradigma dos estudos da relação Melancolia e Literatura, propondo uma nova leitura para as obras que compõem a Trilogia do Adeus (2017).