O objetivo geral da pesquisar é investigar a carnavalização, compreendida como processo amplamente arraigado na cultura popular, marcado pela presença de costumes, crenças e personagens provenientes tanto do campo mítico como do contexto sócio-histórico, em que a hierarquia e estruturas de poder vigentes são abolidas ou investidas, apresentando como corpus de investigação o texto dramático O auto do Lampião no além (1999), do piauiense Gomes Campos. De forma mais específica, observar o processo de carnavalização decorrente da polifonia presente no texto, uma vez que através das diversas vozes apontadas na narrativa o autor apresenta o conflituoso, o contraditório, ressaltando cenas em que as personagens colocam as suas condições físicas e sociais, o que, por vezes, pode ser percebido nas características onomásticas dos próprios nomes dessas personagens, que evidenciam características sintomáticas do drama; examinar no processo de carnavalização as situações em que acontecem a inversão da ordem, a troca de papeis ou a subversão das estruturas de poder, assim como o destravestimento em relação a posturas de personagens que se desnudam e, assim, expõem seus pontos fracos; avaliar a carnavalização proveniente da intertextualidade presente na peça, em que textos e fatos históricos são parodizados, através de uma linguagem simples, popular e coloquial, fomentando, assim, uma forte crítica social. Para a constituição da base teórica do trabalho, apela-se para Damatta (1984), George (1990), e Batista (1989), para a compreensão do fenômeno social do carnaval e do conceito de carnavalização; Bakhtin (1997, 1998) e Kristeva, para a compreensão dos conceitos de polifonia, dialogismo e intertextualidade. O auto do Lampião no além de Gomes Campos, peça teatral com tema popular e abordagens histórico, social e religiosa, mostra personagens e situações onde estão contidas as mais diversas características carnavalizadoras. Percebe-se a inversão da ordem, em que os episódios e personagens satirizados tomam a “tribuna” do palco apresentando uma visão caricata de um Brasil não muito “sério”, revelando conflitos entre a ordem oficial e a popular. O mundo dos infernos seria nada mais nem nada menos que uma projeção do mundo terreno, as situações e comportamentos das figuras que desfilam pelo gabinete de Lúcifer são carregadas de características carnavalizadoras, ou seja, remete-nos a uma visão parodística do mundo.