Com o avanço dos programas e políticas públicas em saúde surgiram modificações na assistência ao recém-nascido com o objetivo de reduzir índices de morbimortalidade neonatal. Foi criado em 2017 pelo Ministério da Saúde a Estratégia QualiNeo para reduzir a mortalidade neonatal e qualificar a assistência ao RN. Essa dissertação objetivou analisar os indicadores de cuidado neonatal da Estratégia Qualineo em uma maternidade de referência nos anos de 2021 a 2022. Trata-se de um estudo analítico, transversal e retrospectivo com análise das fichas de monitoramento neonatal de janeiro de 2021 a dezembro de 2022. A pesquisa foi realizada em uma maternidade pública de referência em alto risco na capital do Estado do Piauí, no Núcleo de Vigilância de Óbito Materno e Neonatal da instituição. A amostragem foi não probabilística sequencial, com a coleta de dados secundários das fichas de monitoramento do cuidado neonatal da Estratégia Qualineo. Foram incluídos os dados das fichas digitadas no período definido para o estudo. Os dados foram organizados e analisados no Software Stata ® (Statacorp, College Station, Texas, USA), versão 14. Utilizou-se o teste do qui-quadrado de Pearson para avaliar a associação entre as variáveis do estudo, e calculado a razão de prevalência com intervalo de confiança de 95%, estimado pela regressão de Poisson para medir a força de associação entre a variável dependente (óbito neonatal) e variáveis independentes. O nível de significância adotado para os testes foi de p<0,05. Esta pesquisa teve aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa com número de parecer: 5.706.053. Das fichas analisadas, 47,2% das mães apresentaram idade entre 20 a 29 anos. Quanto a cor da pele e escolaridade, 81,3% eram autodeclaradas pardas e 88,4% informou possuir oito anos ou mais de estudo. 96% das mulheres fumavam, 32,7% possuíam diagnóstico de hipertensão arterial (p=0,005), 14,6% tiveram gestação múltipla (p=0,033), 13,3% eram bolsa rota com tempo <18 horas e 49,9% precisaram utilizar esteroide antenatal (p=0,036). O tipo de parto teve associação significativa com a variável dependente (p<0,001); 73,9% tiveram cesárea e, deste quantitativo 20,1% dos recém-nascidos foram a óbito. Dos neonatos, 52,6% eram do sexo masculino, 43,4% nasceram pesando entre 1500 a 2499 g, 35,6% com idade gestacional entre 34 a 36 semanas e 39,4% necessitaram de manobras de reanimação ao nascer. No que se refere ao Apgar no 1º e 5º minuto de vida, 36,7% e 9,5% atingiram Apgar maior ou igual a 7, respectivamente. 79,8% dos neonatos tiveram clampeamento imediado do cordão umbilical ao nascer, 50,3% necessitaram de medidas para evitar hipotermia, 51% internaram na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal e 40,1% tiveram infecção precoce. Quanto ao uso de antibiótico, 20,4% dos neonatos iniciaram medicação nas primeiras 48 horas de vida. Houve associação significativa com todas as variáveis neonatais com o desfecho óbito (p<0,05). O cálculo da razão de prevalência identificou como fatores que aumentam a probabilidade do óbito neonatal: ausência de hipertensão arterial e gestação múltipla, sexo do recém-nascido indeterminado, peso ao nascer ≤999g, idade gestacional menor que 30 semanas, a não internação nas unidades de cuidados intermediários convencionais e canguru, e o uso de antibiótico nos dois primeiros dias de vida. Conclui-se com isso que os fatores associados à mortalidade neonatal estiveram relacionados com aspectos maternos e neonatais. O estudo revelou a necessidade de assistência qualificada durante o pré-natal e parto, além da realização de novos estudos para o desenvolvimento de intervenções eficazes para redução dos índices de óbito no neonato.