REPERCUSSÕES DO TRABALHO NO COTIDIANO DE ADOLESCENTES: Um Estudo de Enfermagem
Adolescência. Enfermagem. Saúde do Trabalhador.
O trabalho no adolescer, historicamente, esteve justificado pela dignificação pessoal, preparação para a vida adulta, aquisições de responsabilidades ou necessidade de contribuir na renda familiar, todavia a submissão do adolescente a condições laborais não decentes potencializa prejuízos em seu desenvolvimento biológico e psicossocial. Assim, objetivou-se analisar as repercussões do trabalho no cotidiano de adolescentes inseridos nos eixos produtivos locais do município de Bom Jesus – PI. Desenvolveu-se um estudo exploratório descritivo, com abordagem qualitativa dos dados, em duas etapas, entre os meses de março a julho de 2015, na primeira aplicou-se uma entrevista semiestruturada com 17 adolescentes, captados pelo método da amostragem “Bola de Neve”; e na segunda realizou-se um Grupo Focal com 07 participantes da etapa anterior, para aprofundamento do fenômeno abordado. Como método de análise dos dados apropriou-se da Hermenêutica-Dialética de Minayo (2006) que, por meio de um processo dialógico, permitiu uma reinterpretação da temática. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade Federal do Piauí, sob o CAAE Nº. 39195714.5.0000.5214. Os resultados apontaram que a maioria dos adolescentes trabalhadores era do sexo masculino (58,8%), estava compreendida na faixa etária de 18 a 19 anos (70,6%), solteiro (100,0%), possuía o ensino médio incompleto (64,7%), residia com os pais (70,6%) e sua renda familiar concentrava-se entre um e dois salários mínimos (47,1%). Em relação à prática laboral, os adolescentes desempenhavam as funções de secretário, auxiliar de professor, babá, vendedor ambulante, vendedor, técnico em enfermagem, promotor de vendas, auxiliar de mecânico, garçom, operador de caixa e auxiliar técnico em agronomia, em uma jornada de oito horas por dia, geralmente distribuídas nos turnos da manhã e tarde, realizadas em um tempo de serviço de um mês, estabelecido por relações trabalhistas informais, sem Carteira de Trabalho assinada ou contrato de prestação de serviço. A entrada do adolescente no mundo do trabalho ocorreu em sua maioria entre 10 e 13 anos de idade e foi motivada por vocação ou realização pessoal, reconhecimento familiar, auxílio na renda familiar, futuro profissional promissor e custeio do filho. O cotidiano, normalmente, contemplava os eventos de trabalho, estudo e lazer. Dentre as interferências mais explicitadas oriundas do labor no adolescer destacaram-se: a redução nos tempos de sono/repouso, de lazer e estudo, bem como na dinâmica familiar e espaços para dedicar a si; nas quais os adolescentes recorriam a estratégias para minimizá-las, como: organização do tempo, distribuindo todos os eventos de seus cotidianos; realização das tarefas escolares na própria escola, no final do dia em casa ou nos intervalos do trabalho; busca por espaços de lazer mais qualitativos e adiantamento dos afazeres. Ademais, o trabalho trouxe pontos positivos, como: mais responsabilidades, prevenção de vulnerabilidades sociais, independência financeira, reconhecimento social, realização pessoal, interações sociais, equilíbrio emocional, experiências e aprendizagens profissionais. Quanto aos aspectos de saúde, os jovens mostraram pouca preocupação com sua saúde, mesmo reconhecendo alterações na saúde desencadeadas pelo labor, tais como: fadiga física e mental, insônia, dores osteomusculares, cefaleia, tonturas, câimbras e problemas de estômago. A única assistência à saúde recebida no adolescer esteve representada por ações de educação em saúde, voltadas a temas relacionados à sexualidade, desenvolvidas por enfermeiros no espaço escolar. Denotando a necessidade de planejar ações assistenciais específicas e orientadas aos contextos sociais do adolescente trabalhador, por meio de uma abordagem multiprofissional e interdisciplinar.