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Feliz dia do Enfermeiro!

Comemoramos no dia 12 de maio, o Dia da Enfermagem e o Dia do Enfermeiro, em homenagem a Florence Nightingale, marco da enfermagem moderna no mundo e que nasceu em 12 de maio de 1820.


E, para destacar essa data tão importante para a saúde humana, a Enfermeira Sanitarista, Docente e Pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGEnf/CCS/UFPI), Prof.ª Dra. Maria do Livramento Fortes Figueiredo, elaborou uma reflexão sobre esta data.


De acordo com o Conselho Regional de Enfermagem do Piauí (Cofen-PI), os profissionais representam mais de 50% da força de trabalho na assistência à saúde, na segurança do paciente e na oferta de cuidado integral e humanizado. No Estado do Piauí, são quase 30 mil profissionais de Enfermagem, a maioria mulheres (88%).

 

Confira na íntegra o texto da Prof.ª Dra. Maria do Livramento:

 

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A enfermagem historicamente está no centro das atenções nas crises sanitárias


Em 02 de janeiro de 2020, o Burdett Trust for Nursing, o Conselho Internacional de Enfermeiros (Internacional Council of Nurses) e a Organização Mundial de Saúde (OMS) lançaram a campanha denominada Nursing Now, o Ano Internacional do Enfermeiro, da Parteira e o bicentenário do nascimento de Florence Nightingale, considerada a fundadora da Enfermagem moderna no mundo.

Estas organizações ainda nem sabiam que iríamos enfrentar uma crise sanitária mundial como a que estamos vivendo, reconhecida a partir da decretação da Pandemia do Coronavírus, em 12 de março de 2020, quando de fato, a Enfermagem, ocupou o centro das atenções, estando na linha de frente na assistência aos pacientes com COVID-19.

Já estávamos nos preparando para a realização de grandes eventos comemorativos, quando iríamos discutir a trajetória da Enfermagem desde os seus primórdios. Neste momento, o mundo parou frente a um inimigo invisível da família do Coronavírus, que eclodiu de forma epidêmica no final de 2019, na China Ocidental, atingindo um total de 81.740 pessoas, com mais de 3.500 mortes.

Em decorrência da mobilidade populacional e da globalização, rapidamente o vírus disseminou-se em todos os continentes chegando ao Brasil no final de fevereiro, quando tivemos o 1º caso confirmado, hoje, 12 de maio de 2020, o país já superou a China, primeiro epicentro da pandemia. As estatísticas nacionais ultrapassaram 160.000 casos confirmados e mais de 11.200 óbitos.

Entre as recomendações primordiais indicadas pelas autoridades científicas, sanitárias e gestores governamentais para o combate ao Coronavírus se destaca o isolamento social de todos, especialmente, do grupo de idosos, por serem considerados de maior risco para o desenvolvimento de formas graves da doença. Para tanto, decretos de calamidade pública foram editados por Estados e Municípios suspendendo todas as atividades comerciais, educacionais, religiosas e eventos, permanecendo em funcionamento somente os serviços essenciais: assistência à saúde, supermercados, farmácias, limpeza pública e os funerários.

Estes decretos continuam sendo reeditados com a prorrogação de prazos, ampliação de medidas restritivas, implantação de barreiras sanitárias, obrigatoriedade do uso de máscaras e até suspensão do transporte público nas grandes cidades. Além disto, uma forte campanha na mídia, nos meios de comunicação e nas redes sociais, conclama a população a ficar em casa, além de seguir com rigor as demais recomendações para minimizar a propagação do coronavírus, entre as quais se destacam: lavar as mãos frequentemente com água e sabão e utilizar álcool em gel, manter distância, evitar o contato com pessoas doentes, evitar lugares aglomerados e/ou fechados, quando tossir ou espirrar, cobrir a boca e o nariz, utilizar lenço descartável para higiene nasal, não compartilhar objetos de uso pessoal, evitar os deslocamentos enquanto a pessoa estiver doente, e ao sair de casa usar máscara.

O isolamento social e todas as medidas restritivas impostas tem como objetivo reduzir a velocidade de propagação do vírus e a consequente aceleração do número de infectados, bem como, daqueles(as) que venham a desenvolver as forma graves da doença e consequentemente, necessitem de serviços especializados com suporte de UTI, pois o país não dispõe de leitos suficientes para atender a demanda crescente de pacientes, em um curto espaço de tempo.

Neste ponto, retornamos aos ensinamentos de Florence Nightingale , nascida há 200 anos, que foi merecidamente reconhecida por ter revolucionado a enfermagem. Sua abordagem nos cuidados aos soldados feridos e no treinamento de enfermeiras no século 19, melhorou e salvou incontáveis vidas. Desde esta época, ela tinha noção da importância da lavagem das mãos, como é possível identificar no seu livro, Notas sobre Enfermagem (1860): “toda enfermeira deve ter o cuidado de lavar suas mãos muito frequentemente ao longo do dia”.

Durante a Guerra da Crimeia (1853-1856), Nightingale implementou a lavagem de mãos e outras práticas de higiene nos hospitais do exército britânico, evidenciando que com estes cuidados os feridos se recuperavam mais rapidamente, diminuindo o número de mortes. Neste período, Florence Nightingale considerava que o lar era um lugar crucial para intervenções de prevenção de doenças. Pois, era onde a maioria das pessoas contraía as doenças infecciosas. Situação semelhante é evidenciada na Pandemia do Coronavírus, a exemplo disto, em Wuhan entre 75 a 80% das transmissões ocorreram nos núcleos familiares.

No livro Notas sobre a Enfermagem (1860), Nightingale trazia recomendações para pessoas comuns sobre como manter um lar saudável. Evitando a fumaça excessiva em lareiras até o uso de material mais seguro para cobrir paredes, como, tinta à óleo. Aconselhava a abertura de janelas e portas para maximizar a luz e a ventilação, e eliminar o ar “estagnado, mofado e impuro”. Outra medida sanitária defendida por ela trata-se da implantação de um sistema de drenagem das águas para combater doenças de veiculação hídrica, tais como: cólera e a febre tifoide.

Florence além destas medidas práticas relativas aos cuidados físicos e ambientais, na sua abordagem holística, incluía a atenção emocional e social, ao encorajar os soldados a lerem, escreverem e socializarem seus escritos durante a convalescença para não se afundarem em chateação e alcoolismo. É o que hoje as equipes de saúde (médicos, enfermeiros, assistentes sociais e psicólogos) desenvolvem na assistência as famílias em isolamento social e aos doentes internados nos hospitais e até em UTI´s, ou seja, o cuidado denominado de: apoio emocional e comportamental.

Estas medidas de higiene individual e coletiva, bem como, a ventilação das casas tem sido uma tônica das recomendações sanitárias atuais para minimizar a propagação do vírus no Brasil e no mundo. Infelizmente, a moradia da maioria da população brasileira não dispõe de estruturas apropriadas e condições sanitárias de água e esgotos, capazes de garantir a higiene individual e coletiva, bem como, o distanciamento social dentro destes pequenos domicílios. Somam-se a estes determinantes, a precariedade de hábitos de vida saudáveis influenciados até pelos elevados índices de analfabetismos evidenciados nas populações periféricas das grandes cidades no país.  

Florence Nightingale era filha de uma família burguesa e teve a oportunidade de estudar estatística, o que lhe ajudou a provar a eficácia de diferentes intervenções. Ela produziu seus famosos diagramas, nos quais, demonstrou que a alta proporção de morte entre os soldados era decorrente de infecções e não dos ferimentos das batalhas, por isto se tornou a primeira mulher aceita na Sociedade de Estatística de Londres, em 1858.

Em 1857, um ano depois de voltar da Guerra da Crimeia, Nightingale sofreu um colapso severo, hoje atribuído a uma infecção chamada brucelose, quando impôs para si o autoisolamento, estendido para sua família, durante este período sua produtividade foi extraordinária. Além de escrever Notas sobre Enfermagem, ela produziu um relatório influente de 900 páginas sobre as falhas médicas durante a Guerra da Crimeia, e um livro sobre design hospitalar.

Ela ainda montou a Escola de Treinamento Nightingale para enfermeiras no hospital St Thomas em Londres, em 1860, e um programa de treinamento para parteiras no hospital do King’s College, em 1861, além de atuar como conselheira no desenho de vários hospitais novos. Portanto, a Enfermagem Moderna teve sua origem pautada em normas sanitárias e condutas de higiene individual e ambiental essenciais nos momentos de guerras e epidemias. Tudo isto devemos a Florence Nightingale.

Desta forma, este ano de 2020, deve ser mesmo considerado o Ano Internacional da Enfermagem, não por estarmos em eventos e comemorações, mas sim, por sermos a maior força de trabalho que se mantém 24 horas na linha de frente na batalha contra a Covid-19, defendendo a vida, desde as ações da atenção primária nas comunidades até os cuidados intensivos prestados nos leitos de UTI´s em todo planeta. Estas guerreiras e guerreiros merecem além dos nossos aplausos e reverências, as condições de trabalhos adequadas, equipamentos de proteção individuais e coletivos em quantidade e qualidade satisfatória e remunerações justas. Infelizmente, não é isto que temos, via de regra, evidenciamos denúncias de precariedades nas condições de trabalho e o permanente déficit salarial destes profissionais que tem como missão o cuidado com a vida.

A todos e todas que fazem a Enfermagem no Brasil e no mundo parabéns por continuarem nas trincheiras de luta em defesa da vida.

Feliz Dia Mundial do Enfermeiro.

Prof.ª Dra. Maria do Livramento Fortes Figueiredo

Notícia cadastrada em: 14/05/2020 11:09
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