Introdução: A tentativa de suicídio configura-se como emergência psiquiátrica e integra a Lista Nacional de Notificação Compulsória de Doenças, Agravos e Eventos de Saúde Pública. As autoridades sanitárias e a comunidade científica evidenciam o aumento da incidência, prevalência e mortalidade durante a pandemia COVID-19, assim como têm destacado a necessidade da avaliação dos indicadores de estrutura, processo e resultado como importante estratégia para prevenção e controle. Objetivo: Avaliar as modificações impostas pela pandemia COVID-19 nos resultados clínicos e nas dimensões de estrutura e processo durante o atendimento emergencial às tentativas de suicídio. Método: Estudo avaliativo desenvolvido em duas etapas: 1 – Estudo transversal analítico com 443 registros assistenciais de pacientes que buscaram atendimento emergencial após tentativa de suicídio entre os anos de 2019 a 2021. A caracterização dos participantes foi realizada após análise dos registros de violência autoprovocada na ficha do Sistema de Informação de Agravos de Notificação; 2 – Estudo transversal analítico com 28 profissionais especializados para atendimento às tentativas de suicídio. Para tanto foi utilizado um formulário próprio que permitiu avaliar e comparar a estrutura, o processo e o resultado antes e durante o cenário pandêmico. A análise foi realizada com base nos princípios da estatística descritiva e inferencial. O estudo obteve aprovação emitida pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Piauí, sob processo número 4.866.443. Resultados: Apesar de serem registrados 443 casos de violência autoprovocada no período estudado, os resultados demonstraram redução considerável das notificações, sobretudo após o ano de 2020, em que foi decretado o estado de emergência global imposto pela pandemia COVID-19 e pelas suas medidas de enfrentamento. Ainda, verificou-se que o comportamento de risco predominou no sexo feminino (58,24%), com faixa etária de 20 a 34 anos (44,47%), autodeclaradas pardas (56,21%), solteiras (59,82%), de baixa escolaridade (20,10%) e com deficiência e/ou transtorno prévio (49,66%), dentre eles as desordens mentais e comportamentais. A comparação dos indicadores antes e durante a pandemia demonstrou redução do número de profissionais idosos (60,7%), melhoria no quadro de reserva técnica (42,9%), aumento da supervisão técnica (21,4%) e crescimento significativo da equipe de enfermagem (p=0,001). Mesmo com esses avanços, foi expressiva a frequência de participantes que consideraram inadequadas as instalações físicas (75,0%) e leitos com baixa acessibilidade (60,7%), bem
como que desconheciam os protocolos clínicos e o organograma institucional (28,6%). No processo e resultado, os avanços compreenderam a aumento dos indicadores de identificação do paciente (82,1%), triagem (67,9%), percepção de agilidade clínica (28,6%), reunião entre equipe (35,7%), registros assistenciais e notificações (64,3%). Conclusão: Apesar das melhorias identificadas, as dimensões estrutura e o processo ainda apresentam limitações significativas, requerendo a estruturação de políticas públicas e linhas de cuidados como alternativas válidas, seguras e efetivas para a melhoria dos indicadores de tentativas de suicídio e da qualidade assistencial.