calazar tem se comportado como uma infecção oportunista nos pacientes portadores do vírus HIV e essa associação tem sido descrita em várias regiões do mundo. As duas doenças exercem um efeito de sinergismo prejudicial na resposta imunitária celular por possuírem células imunitárias semelhantes como alvo. Uma parcela dos pacientes evoluem com calazar recorrente, apresentando permanência da esplenomegalia, falência terapêutica definitiva do calazar, HIV com persistência de células CD4 + baixas mesmo com carga viral indetectável e perfil hematológico de pancitopenia. Este território hostil ocorre provavelmente devido ao hiperesplenismo, que além de ser responsável pela pancitopenia é um reservatório de Leishmania e linfócitos repletos de vírus HIV. Com base nisso, descrevemos os resultados da esplenectomia em pacientes com leishmaniose visceral recorrente coinfectados ou não com HIV tendo como fundamento a experiência positiva de esplenectomia em pacientes com calazar imunocompetentes. Metodologia: Trata-se de uma coorte aberta envolvendo indivíduos com calazar recorrente, co-infectados ou não com HIV, acompanhados no Instituto de Doenças Tropicais Natan Portela, em Teresina, Piauí, Brasil, no período de 2008 a 2016. Os critérios de elegibilidade para a cirurgia foram: pacientes com confirmação de calazar recorrente, com infectados ou não com HIV, que aderiram à profilaxia secundária para calazar e a terapia anti-retroviral, em condições clinicas de se submeter ao procedimento cirúrgico e que aceitaram o procedimento. Resultados: A esplenectomia foi realizada em 13 pacientes, um paciente teve a indicação definida porém foi a óbito ainda no preparo pré operatório. Apenas dois pacientes tiveram complicações precoces relacionados diretamente ao procedimento. A única complicação tardia descrita foi a leishmaniose dérmica pós calazar e ocorreu em dois pacientes. Quatro pacientes vieram a óbito ao longo da coorte. O tempo médio de internação após esplenectomia foi de 6 dias. Para todos os pacientes houve aumento das células CD4 (p = 0,003), diminuição de novas hospitalizações (p=0,001) e melhora da pancitopenia (p < 0,05). A estimativa média do tempo de sobrevida dos indivíduos é de 1327,98 dias após a cirurgia, ou seja, cerca de 3 anos e 7 meses. Peso, tamanho e espessura do baço importa para a programação cirúrgica, quanto maiores, mais difícil será o procedimento. Conclusões: A esplenectomia pode trazer benefícios ao grupo de pacientes com calazar recorrente, coinfectados ou não com HIV, que falharam no tratamento de ambas as infecções e desenvolverem hiperesplenismo.