O uso de plantas medicinais é uma prática constante em diversas populações locais, incluindo comunidades rurais, onde os conhecimentos e as estratégias de cura desenvolvidas para tratar doenças tanto de causas físicas quanto espirituais contribuem à formação dos sistemas médicos locais (SML). Esses SML incorporam plantas de diferentes origens, e uma forma de entender a sua dinâmica evolutiva e adaptação é pela investigação de como essas plantas ingressam e influenciam nesses sistemas. Proposições como a hipótese da versatilidade (HV), hipótese da diversificação (HD) e o modelo de redundância utilitária (MRU) foram sugeridos para tentar explicar os aspectos relacionados à seleção de plantas exóticas e questões funcionais em SML. Assim, analisando-se a influência da origem das plantas sobre alvos terapêuticos físicos e espirituais, este estudo objetivou avaliar a versatilidade terapêutica das espécies exóticas e nativas, investigar se as plantas exóticas atuam principalmente preenchendo lacunas não atendidas por plantas nativas, além de identificar que recursos são priorizados nos alvos redundantes na comunidade rural Morrinhos, Monsenhor Hipólito-PI, nos dois grupos de doenças analisados. Os dados foram coletados em duas etapas: a primeira envolveu listas livres, entrevistas semiestruturadas com os moradores locais (n = 134) e turnê-guiada para coleta dos espécimes citados, os quais foram identificados e depositados no acervo do TEPB. Na segunda fase, as entrevistas avaliaram a priorização entre as plantas nativas e exóticas nos alvos físicos e espirituais redundantes citados anteriormente, considerando-se a primeira opção do ordenamento. Em cada grupo terapêutico, a HD foi avaliada por meio de dois modelos lineares generalizados (GLM Poisson e Binomial), a versatilidade terapêutica baseou-se na quantidade de indicações medicinais e foi comparada pelo teste de Mann-Whitney entre os recursos nativos e exóticos, e a priorização em cada grupo foi verificada pelo χ² entre as proporções de plantas nativas e exóticas mais utilizadas. Foram citadas 132 espécies de plantas, 71 exóticas e 61 nativas, com indicações para doenças de causas físicas e espirituais. Os resultados mostraram que a HD não explica a entrada das plantas exóticas em ambos os grupos, pois não ocorrem preenchendo lacunas terapêuticas significativamente, com uma expressiva redundância com recursos nativos. A versatilidade é semelhante entre plantas nativas e exóticas nos dois alvos (p > 0,05), e quanto à priorização, observou-se cenários diferentes: as plantas exóticas são priorizadas nos alvos de causas físicas, enquanto que as nativas são priorizadas nos alvos de causas espirituais. Portanto, o sistema terapêutico em Morrinhos apresenta semelhanças e diferenças, dependendo da análise entre os alvos, fazendo-se indispensável ampliar esse debate e investigar o uso popular de plantas em diferentes contextos ambientais e socioculturais para melhor compreender a influência da origem das plantas em alvos terapêuticos de causas físicas e espirituais em SML.